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Aquele canto era diferente de tudo o que eu já ouvira, e senti o cabelo eriçar-se em minha nuca, como se José me fizesse cócegas com um talo de capim. Ao virar-me para repreendê-lo, no entanto, vi que ele estava longe, sentado ao lado de nosso pai, os olhos brilhantes, fixos nas cantoras. Elas cantavam as palavras em uníssono, mas, de alguma forma, criavam uma teia de sons com suas vozes. Era como ouvir um pedaço de tecido tramado com todas as cores do arco-íris. Eu não imaginava que a voz humana fosse capaz de produzir tanta beleza. Nunca ouvira harmonia antes.
(...) Fechei os olhos. As mulheres cantavam como pássaros, só que com mais suavidade. Suas vozes soavam como o vento nas árvores, só que mais alto. Ou como o murmúrio das águas do rio, só que com significado. Então, cessaram as palavras e elas começaram a cantar emitindo sons que não faziam sentido algum mas ainda assim expressavam alegria, prazer, saudade, paz. "Lu, lu, lu", cantavam elas.
[A Tenda Vermelha - Anita Diamant]
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